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1363: PREÂMBULOS PARA UM CONTO DE MUNDO, 2012


Um preâmbulo, aquilo que introduz, que prepara o terreno para chamar a vista inquieta, é também uma espécie de aviso: ao invés de acomodar, deflagra o não razoável. Impulsiona para longe, para que se possa percorrer o sentido do transformar-se: rumo à diferença. Em todo começar há uma exigência de esperança e uma ameaça de fracasso, daí, seguir em frente e começar, de fato, é arriscar-se, tecer-se e construir-se. Há sempre um caminho para, se um desejo de.

Roberta Goldfarb fabula preâmbulos, mas não se ressente de um ponto de partida (aquele que poderia nomear como fundamental). O que importa é sentir-se indo, sem data, em passagem: para que as coisas não pareçam bem as mesmas e as fronteiras que um dia ousou pousar estejam ao alcance da mão, mas sempre se alastrando ininterruptamente, para novamente persegui-las.

Não trata de voltar o olhar para trás e saber como era, como as palavras apresentavam o mundo e superficialmente davam conta de sua naturalidade. Cada momento é visto pela artista como muitos, a se partirem, reverberando-se em possibilidades, embora não haja chance para o talvez quando o movimento de mudança se instaura como permanente. A artista atua de maneira confessional: elabora comentários ao que se atribui às noções de liberdade e restrição e como se dá a presenticidade do tempo e a ausência, algumas de suas principais temáticas, empenhando rigor em uma pesquisa de construção da imagem, como registro, como ação, como poesia, com seus silêncios tão dispostos à contemplação e tão porosos ao mundo e seus embates. Em sua poética, Roberta Goldfarb possibilita um mundo – em imagens, em flagrantes de índices de desconfigurações e de ausências – em que a materialidade e a imaterialidade das coisas, dos ritos, dos acontecimentos, das relações aparecem para que os significados daquilo que nos atesta como seres sociais se movam, desadequando e desencaixando nossas intuições e suposições.

A artista investiga as latências de um mapeamento perceptivo muito particular de um ser e estar em contato com o mundo. Seus procedimentos cartográficos envolvem também uma fruição ou reação daquilo que a rodeia. É uma observação íntima, ao mesmo tempo em que inserida, com potência a alavancar-se e ampliar-se ao outro, questionando os sensos de urgência sobre os afazeres, sobre os afetos, os enganos. Seu trabalho deixa claro que os limites de nossa época se concentram numa espécie de escapismo, em que uma trama nostálgica deixa prevalecer o desejo de volta a um passado, que paralisa as possibilidades de transformação e de revisão de conceitos.

Nessa mostra individual, Roberta Goldfarb apresenta um percurso, que vem desenvolvendo há mais de 3 anos, reelaborando seu olhar fotográfico e redimensionando conceitualmente a manufatura da imagem. Engano, Cartografia, Grito, Fábulas, Coleção de tempos e a instalação "Cantos da Casa" são preâmbulos para se adentrar em tempos, em processos de percepção, em relatos de mundos, quando parece restar pouco para ver e a visão flagra lugares em que há apenas rumores de uma presença.

Galciani Neves


1363: PREAMBLES TO A TALE OF THE WORLD, 2012


Preambles introduce; they prepare the restless eyes for what is about to unfold. They also serve as a warning of sorts: rather than giving us comfort, they ignite the unreasonable. They push forward, so that we might follow a path towards transformation: one that will make a difference. At every beginning, there is necessarily hope and the threat of failure. Therefore to forge ahead and begin anew entails risk, imagination and creation. There will always be a road forward, if one searches for it.

Roberta Goldfarb invents preambles, but she does not flinch from the starting point (that which we can call essential). What is important is to feel that we are pushing forward, not pressed by time - just moving along so that things will not be the same and what was once believed unattainable now seems within reach, before eluding us once again. And we continue our pursuit.

It is not a matter of looking back to see how it was, how words portrayed the world and superficially extemporized its naturalness. The artist sees each moment as one among many, multiplying and reverberating with possibilities. However, there is no hesitation, as the movement towards change is ongoing. She works in a confessional mode, exploring notions of freedom and constraint, as well as the nature of time and what is absent, which are among her main themes. She engages in rigorous research as she builds her images and creates a record, an action, a poem, with silences so open to contemplation and so porous to the world and its conflicts. In her poetic art, Roberta Goldfarb enables a world – through images, snapshots of shapes and absences – in which the materiality and immateriality of things, rites, events and relations - emerge so that those who we believe are social beings are moving forward, challenging and forming intuitions and assumptions.

The artist investigates fissures in the sphere of our perception of the world. Her cartographic procedures flow with and respond to her surroundings. These are personal observations, but that relate to others, question the urgency of our duties, relations and blunders. Her work clearly shows that the limits of our time are means of escapism, with a nostalgic thread that leads to a desire for the past that paralyzes the possibilities of transformation and the revision of concepts.

In this individual exhibition, Roberta Goldfarb presents the path she has been following for more than three years, recreating it with her photographic lenses and introducing new conceptual dimensions to manufacture her images. Her artwork—Delusion (Engano), Cartography (Cartografia), Scream (Grito), Fables (Fábulas), Collection of Times (Coleção de tempos) and the installation “Walls of the House” (Cantos da Casa) are preambles for us to enter different times, processes of perceptions, accounts of the world. When it seems that there is not much to see, our eyes catch a glimpse of places where there are flashes of a presence.

Galciani Neves