DIZER FAZER, 2014
Entre lo que veo y digo,
Entre lo que digo y callo,
Entre lo que callo y sueño,
Entre lo que sueño y olvido
La poesía.
Se desliza entre el sí y el no:
dicelo
que callo,
calla
lo que digo,
sueña
lo que olvido.
No es un decir:
es un hacer.
Es un hacer
que es un decir.
(…)(Decir, Hacer, de Octavio Paz
A Roman Jakobson)
Quando um se esvazia, o outro começa a encher-se. Mas, novamente, o movimento desta maré alterna-se. Já sem opostos, enquanto um enche-se, o outro chega a transbordar-se. É assim também quando secam. Deserto pausado, embora prenhe. Seguem em modulações. São comunicantes, ocupam-se, enxertam-se. Não há um primeiro e nem seu sucessor. Estão diante um do outro, contaminando-se, confundindo-se, inscrevendo-se em suas diferenças não mais individuais. Enquanto um acontece (e pensa em não chamar seu parceiro de outro), há um fazer. E é preciso afirmá-lo, por isso, há um dizer. Não se trata de vice-versa, estão juntos nesse movimento, não apaziguado e indiviso, que se atrapalha pela descrição desse texto. Dizer. Fazer. Discurso como prática. Prática como voz. Ação e reflexão. Enfim, o que cumpre aqui relatar para qualquer propósito: a teoria apartada de sua capacidade prática só existe em teoria, acusa Eduardo Viveiros de Castro. Ou ainda, Kurt Lewin: não há nada tão prático quanto uma boa teoria.
Exercitando deslimites entre dizer e fazer: a poesia, Beatriz Chachamovits, Clara Benfatti, Fernanda Porto, Fernanda Tricoli, Haroldo Saboia, Leticia Ranzani, Marlos Bakker, Patrícia Araujo, Roberta Goldfarb Philippsen ousaram visadas, experimentaram poéticas e desvios, motivados, sobretudo, pela tensão entre o que se pode ver em si mesmo e as maneiras de atuação e inserção no mundo. Caminharam por uma espécie de espaço vital, em que pesquisa e ação roteirizaram-se, ainda que sem meios próprios ou prévios.
Tendo o encontro como método, foram compartilhados procedimentos e dúvidas de um processo de constituição artística/autoral comum, sensível, porosa. Somaram-se a estas fricções experiências que apontavam outros modos de sentir e de subjetividade política. Nesse contexto de intensos fluxos construtivos, os artistas questionaram-se sobre seus próprios fazeres e mobilidades artísticas, enquanto se sentiam solicitados a ampliar as zonas de ambivalência, coexistência e (por que não?) fusão entre fazer e pensar, palavra e imagem, texto e obra, arte e vida, processo artístico e percepção social...
Das solicitações geradoras de processos: desenhar um contexto, questionar suas condições e reagir. Inflaram-se registros de performances, processos de escutas atentas ao cotidiano, ficções que narram a cidade e suas representações, recursos artísticos de interação lúdico-afetivas. Assim, fazem parte desta mostra multiplicidades de latências que podem levar-nos a conviver com uma paisagem de extremos, ou, contrariamente, de mimetizações ou de camadas que se justapõem. Essa mostra reúne textos e ensaios – desenhos, fotografias, vídeos, objetos instalativos e proposições colaborativas – como experimentos, práticas, projetos em suas ocorrências visuais. Não estão aqui por convergirem nem tampouco por se homogeneizarem em um tema ou linguagem, mas antes porque respondem a desejos e inquietações. São propostas que emergiram de anotações e reflexões traduzidas nos textos a seguir como um de seus lugares de ação. E dessas palavras, sem necessariamente percorrer uma ordem, foram traduzidas nas obras de Dizer, Fazer.
Ainda que em suas distinções e aproximações, podem também ser percebidos pontos de contato, afinal, os artistas vivenciaram um laboratório. São eles: medidas de si em outro, do espaço e seus fazeres, das possibilidades e tarefas de fricção com o mundo. Sem atuar como categorias, essas questões foram sendo observadas ao longo de sete meses enquanto se constituíam. E se configuram aqui, um ateliê feito de espaço expositivo, como impulsos criativos íntimos e dilatáveis que encontram bordas de diálogo uns com os outros, com o público, com possíveis leituras, enfim, com este outro ambiente complexo de tantos compartilhamentos. Lançam-se, assim, a partir das percepções suscitadas, em possibilidades de realizar o que era plano, idealização, desejo em coisa, matéria, alteridade. Entre dizer e fazer, lugar de não equivalência e tempo de construção, abre-se um movimento de ser e questionar incessantemente.
Galciani Neves
SAY DO, 2014
Entre lo que veo y digo,
Entre lo que digo y callo,
Entre lo que callo y sueño,
Entre lo que sueño y olvido
La poesía.
Se desliza entre el sí y el no:
dicelo
que callo,
calla
lo que digo,
sueña
lo que olvido.
No es un decir:
es un hacer.
Es un hacer
que es un decir.
(…)(Decir, Hacer, de Octavio Paz
A Roman Jakobson)
When one is becoming empty, the other is starting to fill. But once again, this tidal movement alternates. But devoid of opposites, while one is filling, the other is overflowing. And this is also so when they dry. The desert is still, but it is conceiving. Everything follows in waves. They communicate, they do, they engraft. There is neither a first nor a successor. They face, contaminate and confound each other; their differences are no longer individual. While one happens (and does not call his partner “the other”), there is a doing. And it must be confirmed.... so it must be said. This is not vice-versa, they are together in this movement which is not in peace and indivisible, which gets mixed up by the description of this text. Say. Do. Discourse as practice. Pratice as voice. Action and reflection. All in all, we must let it be known here for whatever purpose: a theory separated from its practical capacity is only a theory, says Eduardo Viveiros de Castro. Or still, Kurt Lewin: there is nothing as practical as a good theory.
Exercising no limits between say and do: the poetry, Beatriz Chachamovits, Clara Benfatti, Fernanda Porto, Fernanda Tricoli, Haroldo Saboia, Leticia Ranzani, Marlos Bakker, Patrícia Araujo, Roberta Goldfarb Philippsen have dared to see, to experiment poetry and detours, driven mainly by the tension between what you see in yourself and how you can act and infix in the world. They have walked along a vital space where research and action made their story, albeit without own or previous means.
With encounter as method, they share procedures and doubts of a common, sensitive, porous artistic and authorial establishment process. Adding to these frictions, there were experiences that pointed out to other ways of feeling and political subjectiveness. In this context of intense and constructive fluxes, the artists questioned their own doings and artistic mobilities, while, at the same time, feeling the need to broaden their ambivalence and coexistence ranges, and (why not?), the fusion between do and think, word and image, text and work, art and life, artistic process and social perception...
Of the requests that generate processes: to draw a context, to question ones conditions and react. So many were the performance reports, processes to listen carefully to the quotidian, fictions narrating the city and its representations, artistic resources of playful-affective interactions. Thus, this exhibit consists of a multiplicity of latencies that may lead us to live with and in a portray of extremes or, oppositely, of mimics or juxtaposed layers. This exhibit brings together texts and essays – drawings, photographs, videos, installations and cooperative propositions – as experiments, practices, and projects in visual occurrences. They are not gathered here because they come together or even homogenize into a theme or language, but because they respond to desires and restlessness. They are proposals that stemmed from notes and reflections translated in the following texts as one of their places of action. And from these words and without necessarily following any order, they were translated into works of Say, Do.
With their distinctions and approximations, one can also notice contact points. After all, the artists had workshops, experimenting measures of their own in the other, of space and doings, of possibilities and tasks of friction with the world. Without classifying them, these questions were observed throughout the seven months that it took for their constitution. And here they are configured, a studio made out of a exhibit place, as intimate and dilatable creative impulses that meet margins of dialogue with each other, with the public, with possible interpretations, in sum, with this other complex environment of so many sharings. Thus, from the perceptions generated, they are launched as possibilities to achieve what was just a surface, an idealization, a desire for something, for matter, for alterity. Between say and do, a place of non-equivalence and time to build, a continuous movement of being and questioning is born.
Galciani Neves