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ENQUANTO TEMPO, 2012


As negociações com o tempo parecem ter se tornado um incômodo crônico. Não nos resta tempo. Vivemos em contagem regressiva, tentando retomar o que há pouco nos escapou. As urgências estão cada vez mais intempestivas e as consequências do não cumprimento de tarefas, uma constante ameaça. Agendas, alarmes, avisos nos guiam por atividades que serão efetuadas a todo custo e o instante gasto para tal é vivenciado diante da expectativa do próximo compromisso. Parece não haver chance para extensões: um presente insistente, porém, inalcançável.

Desencontram-se o homem e o tempo, como um erro cronológico. Dar-se conta do tempo em que se vive é, sobretudo, perdê-lo de vista, admiti-lo dissociado, por vezes. Tentar suturar-se a ele é insistir em abarcar o inapreensível, já que é sempre “tarde demais” ou “ainda não”. O presente, segundo o filósofo Giorgio Agamben, é uma parte não-vivida,não-experienciada, inserida no todo vivido. E sua via de acesso é uma “arqueologia” não do passado, mas de um inventário de experiências no presente que não conseguimos viver.

Relacionar, remapear, dar contiguidade aos tempos (ou às suas noções) podem se configurar como artifícios para responder ao “escuro de nossa época”. Diante desses sintomas, quais os possíveis escapes? Podem as manifestações artísticas, propondo conexões temporais, efetuar experiências narrativas/discursivas sobre o “não-vivido”?

Enquanto tempo apresenta trabalhos que discutem as relações com o tempo: a memória e suas manufaturas e repercussões, os fluxos e registros do ser e estar, o corpo como medida do tempo. São compreensões distintas de tempo, que se desdobram em outros momentos de experiência, atualizando-se, metamorfoseando-se...

Galciani Neves


ENQUANTO TEMPO [WHILE TIME], 2012


Dealing with time, seems to have become a recurrently bothersome process. There is no spare time. We live on countdowns, trying to retrieve things left undone. Uncalled for urgencies and impacts of unaccomplished tasks are a constant threat. Schedules, alarms, and notices remind us of activities that must be done at any cost, and while proceeding in these activities, our minds dwell in the expectation of the next task. There seem to be no opportunities for extensions: the present is insistent, however unachievable.

Man and time fail to meet, as in a chronological mistake. To understand the time we live in is, above all, to lose sight of it and, sometimes, to understand its dissociation. To try to secure it is to insist on holding on to what is not graspable, for it is always “too late” or “not yet”. For philosopher Giorgio Agamben, the present is a non-lived, non-experienced part of life embedded in the totality lived.

Its path is an “archaeology”, not of past, but rather of a collection of present experiences we cannot manage to go through.
To relate, to redo and to give continuance to times (or to its notions) are maneuvers to respond to “the darkness of our era”. Are there possible escapes in face of these symptoms? Can artistic manifestations that propose temporal connections accomplish narrative/discursive experiences about what is “non-lived”?

Enquanto tempo presents works that address relations with time: the memory and its productions and effects, flows and registries of the sense of being, the body as a measure of time. These perceptions, unlinked to time, unfold into other moments of experience, in updates and metamorphosis…

Galciani Neves