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Bangalô 5
Enviado por roberta goldfarb em 16/07/2010 às 07:04 PM

A distância entre o nosso bangalô e o bangalô 5 não é mais de 300m, mas são separados por um grande lance de escada, mais dois lances menorzinhos, um caminho de pedra, a piscina de um lado, o restaurante do outro.


No bangalô 5 estão hospedadas Toni, Carole e Salle. Toni é uma dessas mulheres de sorriso largo e uma postura de quem viveu muita coisa nessa vida e já viajou muito. Carole é sua amiga, com quem divide o quarto e, Salle... bom Salle é uma linda cachorrinha que mora no hotel e que recebe mais atenção dos hóspedes do que dos donos.

O bangalô 5 fica na passagem para a piscina, o restaurante e os outros bangalôs do hotel. Até parece que foi escolhido perfeitamente para Salle ter todos os mimos que merece.


Algumas coisas como o tempo, cigarro e futebol são grandes facilitadores de comunicação entre as pessoas, mas eu acho que cachorro ganha. As pessoas não hesitam em se falar quando o motivo é esse. Mas neste caso o sorriso e a postura de Toni definitivamente contam.

No meu texto anterior, quando falo em não julgar o que não sei, foi a partir do fato que vou contar. O primeiro dia que vimos Salle ela estava na porta do bangalô 5, amarrada na coleira e o bangalô vazio. A primeira coisa que eu e o Guto pensamos foi “quem viaja e traz um cachorrinho para deixar assim preso??”. No mesmo dia, quando voltamos ao hotel estava lá Toni com sua amiga na varanda do bangalô na companhia de Salle. Não hesitei em perguntar se o cachorrinho era dela. Não era. Não só interpretamos mal, como é justamente o contrário.

Toni tem um coração grande e um amor pela Salle que aos poucos eu entendi porque, uma vez que me apaixonei por ela também. Entre idas e vindas do hotel passávamos pelo bangalô 5 e sempre parávamos para um oi, um carinho em Salle, um papo sobre viagem, uma dica aqui outra ali. Nessas Toni nos contou que há 3 anos vai à Indonésia onde passa 2 meses em Ubud. E neste tempo, "adota" Salle.

Eu relutei em dar o carinho que eu sabia que seria difícil para os dois lados na hora de ir embora. Mas ficamos uma semana lá, o tempo passava e eu me envolvia mais a cada dia que conversava com Toni sobre Salle, conhecia mais sua história e certo dia, quando cheguei no hotel e Toni não estava, não pensei duas vezes, cachorro só quer companhia e carinho. Assim Salle passou aquela tarde conosco, na nossa varanda, piscina, quarto... ao sairmos para jantar deixei Salle no bangalô 5, a Toni devia estar para chegar.

Estes dias em Ubud foram muito intensos para mim, junto com muitos questionamentos sobre a vida, apareceram Jorgen, Toni e a linda Salle. Estas coisas mexem com a gente, são muitos sentimentos contraditórios de como saber lidar melhor com estas situações.

No dia seguinte desta tarde com Salle eu estava fazendo o que disse sobre saber usar meu tempo livre: um trabalho de fotos em um set improvisado no quarto do hotel. Dali a pouco ouvimos um barulho e Salle entra sorridente no quarto nos procurando... quem tem cachorro sabe que isso é a típica coisa que faz nos apaixonarmos de vez por eles. Ao vermos Salle fomos direto até nossa varanda, que ficava no andar de cima e avistamos Toni passeando pelo jardim como quem vem atrás de Salle sem saber para onde ia... nosso bangalô não estava tão à mostra como o de Toni. De lá de cima a convidamos para subir, sorrindo ela respondeu que ao mesmo tempo que se questionava atrás de quem Salle havia ido, ela tinha certeza.

Tudo o que pudemos oferecer para Toni foi um cigarro, já que não haviam reposto nosso café no quarto. Aquele papo na varanda nos pareceu familiar... claro que o assunto sempre voltava para a pequena Salle e nosso amor em comum por cachorros. Entre um cachorro e outro falamos sobre viagem. Toni é dessas pessoas que gosta de dar dicas, mas dicas de verdade com cartão dos lugares, telefone, nome de quem procurar, tudo completo. A conversa então voltava para nossas paixões. Falando de Salle nos emocionamos...

Naquele momento especial dividimos risadas, lágrimas, dicas de viagem e a alegria de conhecer gente como a Toni.

Dali em diante a relação era mais próxima, éramos quase sócias, uma vez que revezávamos Salle. O que me fez admirar Toni desde o primeiro momento em que a vi com Salle foi sua sabedoria emocional de saber se doar a ela, mas também saber ir embora quando necessário. Ainda preciso viver muito para chegar neste ponto.

Ir embora de Ubud por todos estes motivos foi uma das coisas mais difíceis de se fazer nessa viagem para mim. E por isso mesmo, um dos lugares mais especiais.



Toni, Carole, Guto, Salle e Eu

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