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Um homem só precisa daquilo que pode carregar

Enviado por roberta goldfarb em 06/07/2010 às 05:38 AM

Hoje é um dia chuvoso, estamos em Ubud, Bali. A idéia de vir pra cá foi justamente ter uma semana de calmaria, com tempo para pensar na vida, na viagem, curtir tempo livre.

Raramente sabemos o que é isso, tanto em São Paulo, quanto em qualquer lugar do mundo, em um viagem cheia de coisas novas. O bem da verdade é que é difícil para muita gente lidar com o tempo livre. A gente passa a vida planejando “quando eu tiver um tempo, vou....”, e quando esse tempo aparece dá um verdadeiro branco, ou vazio, algo como uma certa angústia. No meu caso, chamado de saudade de casa ou talvez uma junção de pensamentos sobre valores, dores, alegrias, novidades e quem sou eu frente a tudo isso.

É uma viagem onde passamos o tempo inteiro conhecendo coisas novas, correndo de lá pra cá, conhecendo gente, lugares, paisagens.

Quando comecei a saber usar meu tempo livre em São Paulo produzindo meus trabalhos pessoais, saí para esta viagem. É hora de reaprender, fora de casa, um dia em cada canto, a tentar se sentir em casa para curtir esses momentos.

Mas nos momentos livres a cabeça fica lotada de pensamentos e sentimentos. Por isso mesmo o curso de meditação começado ontem para, como disse o mestre, saber controlar meus pensamentos.  Pra que isso no meu caso? Porque essa viagem faz sofrer, faz pensar, faz tentar entender o que quer o homem nesse mundo, a que veio, o que quero EU nesse mundo, a quem vim.

Com poucas respostas mas muitos sentimentos, a grande mudança que acontece nessa viagem é interna. Quando quem já fez esta viagem nos dizia: “não pense que essa é uma viagem fácil”, eu sinceramente pensava em uma mescla de dificuldades materiais e psíquicas. Hotéis, roupas, falta de conforto, na verdade tanto faz, qualquer um vive com pouco, é só colocar em prática. Mas valores, indagações, pensamentos, impotência, angústia, alegrias, contentamento,  paciência, força, você põe em prática, busca, ou adquire na marra.

“Um homem só precisa daquilo que pode carregar”, ouvi esta frase em um filme, ela é sábia e exige treino, pois como disse, o que pesa e precisamos carregar é realmente pouco. A bagagem psíquica teoricamente não pesa mas vem em grande quantidade e, como é difícil de digerir, se transforma em algo difícil de carregar.

Enfim, para entrar na questão e parar de explicar: eu questiono muito a vida, eu não concordo com coisas, eu quero fazer algo para mudar, eu não sossego, como dizem muitas pessoas. E já que eu sou assim, preciso saber organizar e lidar com o que vejo, o que posso e não posso fazer a respeito, até que ponto posso achar que entendo uma situação que mal conheço e, principalmente parar de julgar o que vejo sem saber. Ter o coração em paz para pensar com clareza.

Passamos por culturas completamente diferentes da nossa. Muita coisa me faz ver tanto que a nossa está certa, como que está completamente errada!

Constatamos (e isso não tem a ver com julgamento), que quando você sai de uma cultura mais primitiva para uma mais desenvolvida a primeira coisa a surgir é a diferença social e, junto com isso surgem as coisas ruins do ser humano, ele perde a simplicidade, a humildade, a pureza, que são as coisas mais bonitas do ser. Quando se vai para um lugar mais desenvolvido, as crianças param de nos sorrir, as pessoas não nos cumprimentam mais, a vida vai ficando impessoal.

Mais instintivo que essa simplicidade existe a natureza humana, que tento e tento entender por ser mais sombria do que eu imaginei. Meu assunto volta sempre para os animais, mas se pensarmos que o ser humano não é nada mais que um animal, porém racional, ele tem obrigação de respeitar qualquer tipo de ser humano no mundo. Sem diferenças, cuidados, tratos. Quando há essa diferença de trato, quando um homem se acha no direito de destratar um cachorro, gato, elefante, ele se torna automaticamente um ser irracional e, pior que isso, sem sentimentos.

Minha análise sobre o ser humano e o mundo, se é que posso chamar assim, está relacionada aos seus valores mais primitivos. Não quero saber da vida de ninguém, onde e como vive, o que possui, mas sim seus instintos, sua verdade.

E aí a vida fica difícil, porque viver na ignorância é bom, é fácil, é bonito. Pensar, questionar, ver, se envolver, dói, muda a vida, transforma a alma.

Tenho tentado me entender para saber como lidar com o que não concordo, não posso decifrar e mais ainda, não posso mudar.


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