O outro lado de lá
Há alguns anos, fiz uma viagem à Israel com o Tapuz (uma viagem organizada para jovens judeus) e me lembro bem quando o guia disse: “Estão vendo aquelas montanhas? Depois delas já é outro país, a Jordânia”. Aquilo me marcou por alguns motivos. Primeiro porque, ao que me lembre, foi a primeira vez que eu via um país estando no outro vizinho. Me explico? Antes disso só em mapas. Lá estava eu, em Israel, vendo do outro lado do rio (Jordão) a Jordânia. Segundo, e acho que mais marcante, porque eu achava que nunca pisaria lá. Era território inimigo. Era algo impossível de acontecer. Eu olhava aquelas montanhas e ficava imaginado como era do outro lado.
Nessa mesma época escutávamos muito uma música que dizia “Eu fui, eu fui, eu fui, eu fui, eu fui, eu fui.... pro outro lado de lá....”. Estas lembranças foram voltando a minha cabeça e fazendo sentido, ao entrar na Jordânia. Eu estava lá, naquele país onde eu nunca poderia ter entrado. O tempo passou, o país virou moda, a visita segura. E lá estava eu, do outro lado de lá.
Além da surpresa de estar na Jordânia, atrás daquelas montanhas inatingíveis, tivemos também a surpresa de estar lá bem no mês de Ramadã. Me lembro até hoje, na escola, da professora explicando o que é o Ramadã: “Mas como assim?? Eles ficam o mês inteiro sem comer nada???”, eu pensava. Não, é claro, comem antes de amanhecer e depois do por do sol. Mas ver o Ramadã, na Jordânia, era impossível de pensar há anos atrás e, agora estou aqui tomando cerveja em xícara branca, para respeitar quem faz o Ramadã!
Chegamos em Amman, a capital da Jordânia. Uma cidade bonita, mas deserta. Será que está deserta assim por causa do Ramadã? Ruas bem vazias, prédios bem bonitos. Tudo em tom cru, construções em pedras grandes, lindas, imponentes. Fomos à Jaresh, que fica há uma hora de Amman. Uma cidade em ruínas, bem interessante.
Outra surpresa: poder ver e entrar no Mar Morto na Jordânia. Nunca tinha pensado nessa possibilidade, e isso é tão possível como entrar do lado israelense. Resolvi ter a experiência do outro lado desta vez, com direito a banho de lama. Sem querer puxar sardinha para o meu lado, vendo de Israel, o Mar Morto é imensamente mais verde, mais bonito.
De Amman seguimos para Petra, que é deslumbrante! Wadi Musa é uma cidade pequena e simples que comporta essa cidade histórica chamada Petra. Uma cidade colonizada por uma tribo árabe chamada Nabateus, após alguns anos conquistada pelo Império Romano. Passou por dois terremotos, o segundo destruiu quase a cidade inteira. A partir da Idade Média as ruínas foram descobertas, transformando-se em um Patrimônio da Humanidade.
Ao entrar em Petra há um caminho já com algumas enormes pedras dos dois lados, este caminho nos leva ao “Siq”. O Siq, pra mim é uma das partes mais bonitas de Petra por três motivos: primeiro por ser um caminho estreito, desenhado por paredões de pedras altas, que vez ou outra afunilam mais e quase se encontram formando um teto; segundo porque é a entrada para a antiga cidade de Petra, então andar lá e imaginar como as pessoas viviam, é mágico; terceiro porque o fim deste caminho nos leva ao “The Treasure”, um pátio onde foi construído, ou melhor, esculpido em uma montanha, um enorme monumento de muito valor.
De lá o caminho de Petra segue por muitas escadas, caminhos de terra, atalhos inesperados, subidas intermináveis. Terminamos o nosso primeiro dia de Petra com a caminhada que leva ao Monastério, outra construção maior ainda esculpida em outra montanha, no alto da cidade. A subida, por degraus e caminhos de pedras leva 1h e pouco. Ao chegar no topo um pátio com o Monastério, que nos leva a alguns caminhos diferentes para ver o por do sol. Apostamos em um deles ... e acertamos! Lá encontramos alguns beduínos (nômades que vivem no deserto) e assistimos a um lindo por do sol ao som da música que nos proporcionaram.
A volta do Monastério, depois do por do sol, é privilégio de quem se arrisca a ver o sol cair lá de cima e fazer toda a volta no breu. No segundo que o sol caiu começamos nossa descida. Em meia hora havíamos chegado na base da escadaria. O resto da caminhada em chão de terra até chegar ao Siq, do Siq passando pelo primeiro caminho até chegar ao portão de saída, levou por volta de 1h30. A lua crescente iluminou de certa forma nosso caminho, já que a lanterna esquecemos no hotel e o visor da minha câmera ajudou outro pouquinho. Mas a verdade é que o breu é lindo, ainda mais em Petra.
No segundo dia fizemos um dos caminhos alternativos que sugerem fazer por lá. No começo encontrávamos com algumas pessoas. Mas a medida que seguíamos, nos demos conta que estávamos só nós transitando por ali, fator que sempre faz esses momentos mais especiais, já que não se vê um turista pela frente. O caminho durou algo mais que duas horas. Muitos degraus que nos levavam a vistas de tirar o fôlego. Fomos seguindo placas que nos levaram à lindos espaços que tinham suas paredes e tetos de uma textura cor de rosa e muitas nuances desta mesma cor faziam um desenho no teto. No caminho de volta, encontramos a casa/loja de uma senhora beduína com uma menina que parecia ser sua neta ... em gestos nos sentamos com elas, tomamos uma água e seguimos.
Petra é enorme. Fizemos em dois dias e, mesmo assim não foi possível ver tudo. A caminhada por lá é muito cansativa, e por mais que 3 dias seja o ideal, haja pernas.
O último destino da Jordânia foi Aqaba. Cidade de praia, quente, queeeeente! Ventava quente. Doía ficar fora da água. Praia linda! Dois dias lá para ir ao deserto Wadi Rum. Quase não tenho palavras para descrever a beleza daquele lugar. Árido (claro), com paredões de pedras de todas as cores, formas, texturas. Muito calor, muita sede. Quase posso dizer que me dei conta daquela maravilha ao ver as fotos no computador, pois quando se está lá a miragem por água e um ar condicionado não é coisa de filme, é verdade!
Fronteira da Jordânia (Aqaba) com Israel (Eilat). Mala em punhos. Mais uma caminhadinha para, desta vez, chegar do lado de cá. Que é sempre emocionante!
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