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Enviado por roberta goldfarb em 07/12/2010 às 03:42 AM


Vi montanhas, céus, nuvens e campos perfeitos. Vi a natureza mais bela. Vi lixo nas ruas, vi ruas que são um lixo. Vi um homem sentado na calçada fazendo carinho em um bezerro, vi vacas sagradas vagando sem rumo e comendo lixo. Vi cachorros na rua. Vi os olhos opacos de gente sem esperança e olhos brilhantes latejando de desejos. Vi cabeleireiros, mecânicos, vendinhas em caixas de lata. Vi a casa de um indiano.

Vi a sujeira e o descuido. Vi também a beleza e a prosperidade. Vi gente na beira da estrada, vi gente acenando oi. Vi gente vendendo drogas, vi gente comprando sonhos. Vi um rei cuidar do seu país e fazer sua gente feliz. Vi roupas típicas coloridas, xadrezes, listradas. Vi olhos admirados com o que nunca viram e olhos desprezando o que não queriam ver.

Vi fé, vi materialismo achando que é fé. Vi gente se aproximar por algo em troca e gente querendo trocar experiência. Vi um país calado e intenso, vi outro barulhento. Vi pessoas trabalhando e cantando a vida em suas bochechas cor de rosa de frio. Vi monges rezando, vi monges de mentira pedindo dinheiro, vi reações suspeitas de monges. Vi desenhos curiosos em paredes.

Vi budas de pedras, casas de pedras, corações de pedra. Vi mercados, supermercados, shopping centers gigantes. Vi uma festa na praia, vi um deserto. Vi uma flor cor de rosa linda grande e outra flor sem cor pequena renascer sem sua raíz. Vi praias e águas azuis turquesa. Vi um turismo destrutivo e outro correto integrado ao meio ambiente. Vi um show de pompoarismo, vi a cara das pessoas em choque. Vi uma cadelinha linda. Vi o Brasil perder a Copa. Vi costumes e tradições. Vi macacos. Vi o mestre e quase vi a luz. Vi o sofrimento e a alegria. Vi arte, vi luta, vi canto e dança. Vi lugares mais prósperos do que eu imaginava e uma vida boa. Vi um zoológico, vi floresta. Vi ONGs que cuidam de animais, países que os desprezam e outros que os amam.

Vi amigos queridos ao vivo, outros pelo skype. Vi meus pais. Vi a foto dos meus cachorros ao acordar todo santo dia. Vi o hotel mais lindo e também o mais feio. Vi mesquitas, sinagogas, igrejas, monastérios, parques nacionais. Vi a terra de um balão, de um pára-quedas, de um prédio, de um avião, de uma montanha, de um teleférico. Vi estradas, mapas, placas informativas e outras curiosas. Vi cidades subterrâneas. Vi o mundo árabe, muçulmano, judaico, católico, hinduísta. Vi desertos, mares, florestas, savanas. Vi pastor pregando fé em um ônibus e pessoas rezando nas ruas. Vi mães carregando seus filhos em panos amarrados nas costas.

Vi leoas rodeadas por seus filhotes e elefantes com seus pequenos filhinhos. Vi um lago à noite onde rinosserontes, girafas e elefantes vão beber água. Vi enormes ninhos de passarinhos nas árvores. Vi mulheres vestidas como vacas, mulheres com o corpo pintado, mulheres com o corpo coberto.

Vi rituais religiosos, vi construções maravilhosas. Vi ruas conhecidas, vi minha vida mudar. Vi uma balada maluca e uma pessoa amar o que faz. Vi fotos que não tirei.

Ouvi sons de ruas e buzinas. Ouvi rezas em alto falantes, vozes e idiomas diferentes. Ouvi o mar, o vento, as folhas das árvores. Ouvi bom dia em alguns lugares e não ouvi nada em muitos outros mundos machistas. Ouvi oi, tchau, de onde você é, pra onde está indo. Ouvi quanto você quer pagar. Ouvi a mulher no alto falante do aeroporto chamar para o vôo inúmeras vezes. Ouvi a rádio local, ouvi ipod, ouvi o cobrador do ônibus gritar o nome da estação. Ouvi mentira, ouvi verdade. Ouvi latidos, rugidos, gritos, o som de muitas focas juntas. Ouvi a noite, ouvi o silêncio. Ouvi cantos religiosos. Outros pessoas cantando, simplesmente. Ouvi músicas que me trouxeram outras épocas. Ouvi a voz do meu sobrinho ao telefone e os latidos dos meus cachorros ao lado. Ouvi o barulho do metrô, o sino da igreja, o sinal do elevador. Ouvi minha própria voz, minha consciência. Ouvi histórias de vida.

Toquei na flores, nos bichos, nas coisas e texturas. Toquei o chão com os pés, a terra, grama, barro, pedra. Toquei a água. Toquei o ar, fui tocada pelo vento. Toquei estátuas e muros. Toquei roupas de cama limpas, outras sujas. Mal toquei nas maçanetas de banheiro. Toquei mãos de gente. Fui tocada pelo beijo de uma chita. Toquei um leão. Toquei a vida, a memória, o abraço de um amigo querido. Toquei o coração de algumas pessoas.

Senti cheiro de flor, de mato molhado. Cheiro de cidade agitada e de cidade calma. Senti cheiro de terra, de lixo, de banheiro sujo, de cama cheirosa. Senti cheiro de gente, cheiro do dia, cheiro de esgoto. Cheiro de comidas novas, cheiro imaginário de comidas que tenho saudade. Senti cheiro de chuva, de seca, de areia no deserto.

Senti gosto de comidas novas, gosto de sede, gosto de boca, gosto de águas diferentes. Gosto de sorvete com consistência de chiclete. Gosto das cervejas mais diferentes, de pimenta, de cafés instantâneos. Senti gosto de vinho em caneca de plástico. Gosto de pão com geléia até esgotar. Senti gosto de comidas deliciosas.

Senti amor, ódio, solidão, tristeza, nostalgia, saudade, alegria, pena, dor, esperança, medo, nojo, prazer, cheiros, sono, cansaço, animação, exaustão. Senti o carinho de pessoas queridas através do blog.

Chorei, sorri, falei, calei, ouvi, não concordei, aceitei, aprendi, cresci.

Senti todas as sensações da vida. Observei, ouvi, senti cheiro, gosto, textura. Mais que tudo, senti a vida.

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