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Procura-se Paz de Espírito. Paga-se Bem

Enviado por Guto em 09/05/2010 às 12:22 PM



Não tenho muita propriedade para falar sobre Budismo, mas algumas impressões e curiosidades sobre essa filosofia de vida e o povo tibetano me chamaram a atenção.

O Budismo é uma prática que busca o equilíbrio interno por meio da sabedoria, onde não um Deus, mas o próprio ser dotado de consciência é o centro da mensagem. Buda não pretendia converter as pessoas, mas indicá-las o caminho da iluminação, em que a essência da roda da vida difundida por ele é de que qualquer pessoa pode se tornar um Buda, um “Ser plenamente Iluminado”. Afora o misticismo, fica a bela história de um príncipe muito rico que se encharca por uma compaixão pelo sofrimento alheio e que dispensa a nobreza material no ápice de sua juventude e maturidade. Seu dharma de caridade, moralidade, paciência, perseverança e sabedoria busca separar a matéria física da consciência. A purificação dos karmas negativos, por meio de renascimentos sucessivos, possibilita a ascensão da consciência ao estado de nirvana – de felicidade plena.

Os monges tibetanos, que talvez podemos chamar de budistas ortodoxos, se recolhem e meditam como meio de controlar impulsos não verdadeiros, ignorando a ganância, a competitividade, os bens materiais. Falam baixo com ar sereno, reverenciando todas as manifestações divinas dos mais evoluídos espiritualmente. Não usam jeans, camisas, adornos e raspam a cabeça e barba para se livrar de qualquer sinal de vaidade.

A identidade do povo tibetano se mistura muito com a filosofia de vida de seus monges e assume, tanto no aspecto cultural quanto religioso, o direito de estado soberano. Infelizmente, a história tomou outro rumo. A invasão chinesa em 1950 e a posterior “Revolução In-cultural”, deixaram marcas profundas no povo tibetano. Hoje, a sensação é de um “cala a boca” geral, uma cidade meio calada, meio tramando.

Sinceramente, acho tarde demais para acreditar que a identidade como nação um dia virá. O Dragão tem as garras afiadas demais. Além de muito dinheiro, força militar e espiões espalhados pela cidade, são muito talentosos para contornar uma dinâmica de cidade que lhes convém. De forma muito eficiente, financiam a migração de milhares de chineses para a região, constroem malhas ferroviárias modernas que facilitam esse acesso, promovem a região como principal destino turístico para os chineses, substituindo gradualmente entre a população o sentimento de “posse” pelo de “propriedade”. Conseguem neutralizar as reações de forma mais fácil, já que 85% da população tibetana vive no campo, menos intelectualizada. Apesar do comunismo tradicional ignorar a importância de qualquer manifestação religiosa, utilizam o budismo de forma pragmática para contornar a situação. Os criadores da “Arte da Guerra” são talentosos e onipresentes, seja por meio de soldados na rua exibindo suas metralhadoras em olhar pouco amigável, seja marchando com pompa pelos corredores dos mais sagrados templos budistas locais ou até mesmo pela delicadeza da imagem do “líder” responsável pela morte de milhares de monges estampada nas notas chinesas (Yuan) que adornam e são oferecidas pelos fiéis. A batalha é tão dura que até o líder espiritual e político, Dalai Lama, assume atualmente uma postura de negociar apenas uma região com autonomia cultural.

Apesar das cicatrizes ainda profundas, a China de hoje é diferente da China de Mao Tse Tung. Desde sua morte em 1976, a liderança de Deng Xiaoping encaminhou a China para a potência que é atualmente. De forma gradual transformou um “Comunismo Puro” em um “Socialismo de Mercado”. Mais talentoso e hábil que seu colega russo, implantou as mudanças de abertura na base pirâmide - de baixo para cima - e não impondo certas Perestroika e Glasnost de cima para baixo. Contou com a ajuda de governantes locais para entender o que funcionava e replicar às demais províncias. Talvez essa seja uma das principais premissas que fazem a Rússia atual comer poeira dos chineses.

Poderíamos, quem sabe, dizer que o Budismo é um dos grandes inimigos da economia competitiva e de maximização de lucros? Não inimigos, porque de um lado temos um movimento pacifista não conflitante. Mas imaginem todos os americanos de uma hora para outra se iluminando! O que seria da Apple? Da Mercedes? Dos donos do petróleo? Dos fabricantes de tônico capilar? O que seria do John Nash e sua teoria dos jogos? Enquanto a roda da fortuna capitalista busca a evolução tecnológica que gera mais riqueza, a roda do renascimento budista busca uma evolução interior para alcançar a ascensão espiritual.

Parece muito mais sedutor para o capitalismo se aproximar do budismo do que o contrário. A correria do dia a dia muitas vezes desgasta e nada melhor que mãos certeiras que oferecem uma boa massagem ou artifícios de aulas de yoga e meditação para recompor a energia mesmo que superficialmente. Afinal, pela plena paz de espírito de Buda, só há comprador.


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